O QUE É AUTISMO?
O estudo das causas do autismo é, ainda hoje, campo de conflitos.
No campo da psicológica clínica, alguns de nós concordam em dizer que o autismo pode ser considerado como uma organização psicopatológica suscetível a se constituir como resposta a fatores iniciais muito diversos, tanto orgânicos como psíquicos. Ou seja, para nós o autismo advém de uma “ruptura” no processo de desenvolvimento da criança como ser unificado.
Como assim? Acreditamos que quando nascemos ainda não somos unificados, ou seja, um bebê não consegue identificar muito bem o que é ou não é parte do seu corpo. Ele ainda não se conhece como sujeito distinto do mundo, aos poucos ele irá aprender sobre seu corpinho, onde está a mão, o pé a barriguinha e perceber que as pessoas ao redor não fazem parte do corpo dele. E mesmo que a gente ache que isso é uma novidade, saber que o bebê não se reconhece, nós sempre soubemos disso, afinal a gente sempre pergunta para o bebê: "Quem é esse?" Ou o mostra no espelho, pede para que ele identifique quem é quem na casa, pede para que ele pegue na barriguinha dele e depois na nossa mão, essas coisas simples e que auxiliam o bebê a se identificar como ser único.
Contudo o autista sofreu algo que não o permitiu se desenvolver de forma a colocar bordas em seu corpo. Isso não quer dizer que a mãe ou pai tenham feito algo que dificultou o desenvolvimento dessa criança, há algo que é de cada um e que nós não podemos explicar. É essa falta de bordas que faz com que o mundo seja tão invasivo para o autista.
O autismo, ainda hoje, não possui cura. Não há um tratamento que possa ser realizado e que trará para a criança um poder de convivência reconhecida como cem por cento “normal” nos dias atuais. Contudo diante de um tratamento multidisciplinar nós poderemos auxiliar o desenvolvimento deste sujeito para que ele possa alcançar sucesso em uma vivência independente e sadia.
O autista na clínica psicológica
Na clínica psicológica infantil, o brincar é nossa maior ferramenta. É a partir dos jogos e das brincadeiras que a criança conseguirá se expressar e falar daquilo que ela mesmo ainda não sabe. Mas e o autismo como se encaixa nesse processo de brincar? Não é simples brincar com o autista, isso porque ele não lida bem com o contato social e não funciona sobre demanda. E isto é o que nós sempre temos que ter em mente. A demanda é encarada como invasiva, o simples fato de convidar a criança para brincar pode ser invasivo para o autista. Por isso na clínica nós primeiramente iremos solicitar a presença do paciente sem solicitar. Como isso? Nós vamos oferecer atividades de forma que elas não sejam invasivas, mostrando sempre para o paciente como aquilo pode ser interessante.
Na clínica psicológica nós não iremos trabalhar sob forma interrogativa, isto não funciona. O trabalho ocorrerá com o uso das atividades lúdicas. Para a gente brincadeira não é apenas um momento de diversão, é o momento em que a criança consegue falar mais do que quando fala com as palavras. Com a brincadeira a criança demonstra em suas atividades aquilo que a aflige e ela mesma não reconhece, demonstra suas angústias, medos e sofrimento. É extremamente importante o processo lúdico no processo terapêutico infantil, tudo é cheio de significados, os desenhos são, muita das vezes, portas de entrada para o inconsciente. E com o autista não é diferente, durante o processo lúdico nós estaremos trabalhando a forma como o mundo se apresenta para ele e como isso pode se tornar menos invasivo e angustiante. Claro que com crianças autistas esse processo do brincar tem suas particularidades, pois haverão vezes que nós estaremos lá, mas a criança não brincará com a gente, estará junto, no mesmo espaço, mas sem compartilhar das mesmas experiências. Contudo, para a clínica tudo isso será levado em conta, não é porque um autista não usa as palavras que ele não nos contra suas dores e angústias. Nós iremos, sempre, trabalhar buscando que esse paciente possa se constituir como ser único e com bordas, conseguindo se inserir como sujeito no mundo que o rodeia.
Autora: Ingrid Gabri da Rosa
Contato: 22 988288824
ingrid.gabri@hotmail.com
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